Salles juntou-se a esse desafio há oito anos. O diretor rodou
os EUA, refazendo a viagem dos personagens Sal Paradise e Dean Moriarty, e
entrevistou sobreviventes e admiradores do livro — o material dará origem a um
documentário.
O que “Na estrada” representa para sua
carreira?
“On the road” é um amor de juventude. Eu tinha 18 anos e me
apaixonei pela liberdade radical dos personagens de Kerouac, pela narrativa
ritmada pelo jazz, pela forma como o sexo e as drogas são tratados à flor da
pele, pela estrada como busca não só do outro, mas de si mesmo. O livro era
diferente de tudo o que vivíamos no Brasil dos anos 1970 e do mundo em que eu
vivia. Houve um antes e depois dessa experiência. O filme é o resultado de uma
obsessão que começou nessa época.
Em “Na estrada”, você teve à sua
disposição um elenco de jovens estrelas americanas, algumas, como Kristen
Stewart, com uma base de fãs gigantesca. Certamente isso vai expandir o público
do filme. Como você acha que a história será recebida pelos jovens de
hoje?
“On the road” fala dos desejos de juventude,
da necessidade de se experimentar as coisas na pele e não por procuração, da
importância de se viver cada instante como se fosse o último, do primado da
intuição sobre a razão. O livro propõe uma espécie de ressensibilização dos
corpos e das mentes. Será que isso toca as pessoas hoje? Espero que sim. Ao
mesmo tempo, é bom lembrar que o público que os atores atraem para certos filmes
não se transfere necessariamente para outros.
No instante em que “Na Estrada”, adaptação da obra de Jack Kerouac pelas
mãos do brasileiro Walter Salles, estrear no 65º Festival de Cannes, uma jornada
de mais de 30 anos estará concluída.
O caminho que ontem deu na seleção oficial do evento (de 16 a 27/5) começou
em 1979, quando Francis Ford Coppola comprou os direitos para cinema. Desde
então, o cineasta tentava levar o texto às telas. Mas o projeto só tomou forma
quando Salles subiu a bordo, em 2004.
A reportagem é de Rodrigo Salem, publicada na edição desta sexta-feira (20)
da Folha. A íntegra do texto está disponível para assinantes do jornal e do UOL,
empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
“Alguém da produtora dele viu ’Diários de Motocicleta’ e nos encontramos
para falar de ‘On the Road’”, lembra Salles, 56. “O livro tinha me impactado,
aos 18 anos. Fiquei marcado pela liberdade radical dos personagens. Era o oposto
do que vivíamos no Brasildos anos 1970.”
“As dificuldades que encontramos foram sobretudo ligadas à complexidade do
projeto e à necessidade de fazer o filme com um orçamento apertado [de US$ 25
milhões]. Mas os limites funcionaram a favor do longa.”
Outros pontos ajudaram a produção, como a paixão dos atores pela obra
original. Caso de Kristen Stewart, que vive Marylou. “‘On the Road’ era um dos
livro de cabeceira dela”, diz Salles, que dirigiu a estrela de “Crepúsculo” sem
problemas, mesmo nas cenas de nudez total.
“Há uma qualidade libertária em Marylou, um desejo de experimentação, que
Kristen conhecia bem.” Sam Riley, que faz o alter ego de Kerouac, Sal Paradise,
e Garrett Hedlund (o amigo Dean Moriarty), embarcaram logo depois. Mas quem
impressionou foi Viggo Mortensen, no papel de William Burroughs. “Ele chegou
pronto no set, com a roupa do personagem, a máquina de escrever e o revólver que
ele usava em 1949. Foi uma transformação impressionante.”
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