domingo, 15 de julho de 2012

Critica de On The Road pelo Cinemais



Parecia  impossível trazer para a linguagem cinematográfica  o universo de Jack Kerouac, com sua mais cultuada obra, Pé na Estrada. Escrito em 1951 e publicado apenas em 1957, o projeto passou na mão de vários diretores, entre eles, Francis Ford Coppola, que adquiriu os direitos do livro na década de 80. Coube ao brasileiro Walter Salles, trazer para as telas as aventuras frenéticas desses inspiradores personagens.

O diretor acaba sendo o nome certo para o projeto. Além de fã da obra, Salles sabe manejar o estilo de direção road movie. Com extrema eficácia, ele transformou Central do Brasil e Diários de Motocicleta em excelentes experiências cinematográficas, e repete aqui em Na Estrada.

Mais uma vez se reunindo com Jose Rivera (Diários de Motocicleta) e com a competente fotografia de Eric Gautier (Na Natureza Selvagem), já de início, entramos e não saímos mais da jornada do jovem Sal Paradise (Sam Riley), que parte para o desconhecido para se auto-descobrir. Após perder seu pai, o aspirante a escritor conhece o vagabundo de Denver, Dean Moriarty (Garrett Hedlund), acompanhado do amigo Carlo Marx (Tom Sturridge). Impulsionados pela loucura de viver de Dean, o trio se joga ao mundo do jazz, drogas, sexo, cultura e muito mais. Nessa longa jornada pelo mundo, eles irão se deparar com Marylou (Kristen Stewart), o músico Walter (Terrence Howard), o escritor Old Bull Lee (Viggo Mortensen) e sua esposa Jane (Amy Adams), a mexicana Terry (Alice Braga) e a melancólica Camille (Kirsten Dunst).

A última sempre cai nos galanteios de Dean, acreditando um dia que o jovem que tem um currículo maior que vários delinquentes juntos, possa tomar um rumo na vida. Porém, o espírito livre do personagem, que nunca tem medo de se jogar no mundo, acaba fascinando todos do grupo. Ver as atitudes de Dean em cena, pode parecer algo irresponsável e reprovável de sua parte. A verdade é que todos nós gostaríamos de ter um pouco da coragem dele de viver a vida intensamente a cada segundo. Garrett Hedlund, faz o melhor papel de sua carreira como o personagem e apresenta um carisma e sedução cativantes.

O que impressiona é justamente a sintonia e o comprometimento de todo o elenco. Sam Riley, é o mais passivo, mas seu personagem atua como um  espectador, acompanhando os dilemas de cada um dos amigos. Mas o ator consegue passar em seu olhar a sedenta busca por novas experiências, sempre se deixando levar e conversando com estranhos que encontra nas caronas que recebe na estrada. Stewart, sempre criticada por ser “aquela que faz a mesma cara em todos os filmes”, se entrega totalmente fazendo da Marylou uma jovem comovente e exalando paixão.  A atriz está envolvida no projeto desde 2008 (muito antes de ser a Bella de Crepúsculo), quando o filme ainda procurava financiamento. Ela sempre demonstrou paixão pela personagem e pelo livro, aceitando ganhar o cachê mínimo estabelecido pelo sindicato dos atores. Hedlund, quase abandonou o elenco de Tron: O Legado por conta de seu envolvimento em Na Estrada.

Mesmo com a aparição de personagens que ficam pouco tempo em cena, como a bela Terry (Braga), fica depois uma marca, um sentimento de amadurecimento para o desenrolar dos protagonistas. A atriz brasileira protagoniza uma das cenas mais belas de toda a fita, quando Sal se despede  prometendo que voltará a vê-la, mas ambos, e principalmente ela, sabe que será impossível. Daí a câmera foca no semblante de Terry mostrando um olhar triste.

A jornada de Sal é beneficiada por belíssimas locações, que exploram bem as várias cidades pelos Estados Unidos e México. Um competente trabalho de época, após o diretor passar quatro anos viajando e estudando todo o percurso realizado por Jack Kerouac.

Durante o segundo ato, em que apenas acompanhamos Dean e Sal caindo na estrada, o longa perde um pouco do ritmo. Mas neste momento, Salles tenta passar o sentimento de que ambos estão perdidos e estão sempre fazendo as mesmas coisas, fazendo com que Dean se canse e decida retomar sua vida.

A trilha sonora sempre acompanhada do jazz, traduz bem o sentimento libertador do longa. Destaque para a belíssima cena em que Dean e Marylou parecem estar sozinhos dançando um para o outro em um clube, destacando o intenso espírito jovem do casal.

Na Estrada, é um belo tributo à obra de Kerouac. Walter Salles consegue o inimaginável em traduzir para o cinema uma obra tão fantástica, sendo sensível e apresentando uma fidelidade, que pode ter prejudicado em alguns momentos. Mas a doçura e humanidade com que filmou a jornada de Dean, Sal, Marylou, Carlo, entre outros, conseguiu o objetivo de ser sonhador e inspirador para o público.

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