Presente
no maior festival do mundo com "Cosmopolis", David Cronenberg reafirma a
sua diferença radical: "Cosmopolis" é um filme prodigioso sobre os
nossos impasses existenciais.
Na primeira vez que esteve presente na competição de Cannes, com "Crash"
(1996), David Cronenberg recebeu um prémio especial do Júri, presidido
por Francis Ford Coppola (a Palma de Ouro foi para "Segredos e
Mentiras", de Mike Leigh).
Em boa verdade, o carácter "especial" da distinção, não prevista no alinhamento oficial do palmarés, deixou uma sensação desconcertante: não sabendo como premiar Cronenberg, o júri "inventou" um desvio para não o deixar perdido no labirinto do festival...
O menos que se poderá dizer de "Cosmopolis", que leva Cronenberg de regresso à competição da Côte d'Azur (depois de 2002 e 2005, respectivamente com "Spider" e "Uma História de Violência"), é que a estranheza persiste. Que é como quem diz: com a paciência e o método dos grandes artistas, Cronenberg assina um filme absolutamente prodigioso que, além do mais, confirma uma lógica bem expressa no anterior e, por vezes, tão mal amado "Um Método Perigoso" (2011): a de expor a palavra como uma matéria vital da dimensão humana e dos seus muitos impasses existenciais.
Nesta perspectiva, o filme é também um caso modelar de relação com a literatura. Há nele uma fidelidade obsessiva ao romance de Don DeLillo que se traduz na cuidada integração de muitos diálogos do livro. Em todo o caso, a fidelidade não pode ser medida apenas através de tal "coincidência": Cronenberg e DeLillo encontram-se numa zona de profundo desencanto face ao desenvolvimento das relações humanas e, em particular, à crescente ocupação da nossa existência pelos valores impostos pelo dinheiro todo poderoso.
Que tudo isto aconteça também através de Paulo Branco, produtor, eis um facto que importa sublinhar de forma muito directa. É um momento marcante de um trabalho de várias décadas (envolvendo autores como Manoel de Oliveira, Raul Ruiz, Alexander Sokurov, etc.), confirmando Branco como um nome cuja importância já transcendeu o território luso-francês, abrindo, agora, as portas do cinema de língua inglesa
Fonte | Via
Em boa verdade, o carácter "especial" da distinção, não prevista no alinhamento oficial do palmarés, deixou uma sensação desconcertante: não sabendo como premiar Cronenberg, o júri "inventou" um desvio para não o deixar perdido no labirinto do festival...
O menos que se poderá dizer de "Cosmopolis", que leva Cronenberg de regresso à competição da Côte d'Azur (depois de 2002 e 2005, respectivamente com "Spider" e "Uma História de Violência"), é que a estranheza persiste. Que é como quem diz: com a paciência e o método dos grandes artistas, Cronenberg assina um filme absolutamente prodigioso que, além do mais, confirma uma lógica bem expressa no anterior e, por vezes, tão mal amado "Um Método Perigoso" (2011): a de expor a palavra como uma matéria vital da dimensão humana e dos seus muitos impasses existenciais.
Nesta perspectiva, o filme é também um caso modelar de relação com a literatura. Há nele uma fidelidade obsessiva ao romance de Don DeLillo que se traduz na cuidada integração de muitos diálogos do livro. Em todo o caso, a fidelidade não pode ser medida apenas através de tal "coincidência": Cronenberg e DeLillo encontram-se numa zona de profundo desencanto face ao desenvolvimento das relações humanas e, em particular, à crescente ocupação da nossa existência pelos valores impostos pelo dinheiro todo poderoso.
Que tudo isto aconteça também através de Paulo Branco, produtor, eis um facto que importa sublinhar de forma muito directa. É um momento marcante de um trabalho de várias décadas (envolvendo autores como Manoel de Oliveira, Raul Ruiz, Alexander Sokurov, etc.), confirmando Branco como um nome cuja importância já transcendeu o território luso-francês, abrindo, agora, as portas do cinema de língua inglesa
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